O que faz um professor ser professor? O que leva alguém a dedicar boa parte da sua vida ao delicioso e doloroso processo de ensino-aprendizagem? Será que podemos vislumbrar um professor apenas por sua "casca"?
Ser professor se dá através de sua profissão e de sua personalidade, ou seja, como diz Sonia Penin: pela sua profissionalidade. E o porquê de ser assim? O profissional professor trabalha com seres humanos, que são, que pensam, que sonham, que vivem... É como na dupla-hermenêutica de Giddens. Trabalhamos com seres que possuem conhecimento de sua condição. Ser professor envolve aspectos extrínsecos e intrínsecos. Os fatores extrínsecos de sua profissão podem ser definidos pelas suas condições de trabalho, a estrutura oferecida, sua formação. Os fatores intrínsecos se referem ao vivido entre professor-aluno. Muitas vezes são os fatores extrínsecos que incomodam e preocupam os professores, dada a desvalorização visível da profissão. Por outro lado, os professores atribuem suas escolhas ao papel da educação, aos bons sentimentos de ensinar e aprender.
Para ser um profissional, é preciso de muitos saberes... Os saberes profissionais, que são aqueles que se referem ao racional, ao conhecimento adquirido sobre o processo de ensino-aprendizagem. Mas não basta somente estes. É preciso de saberes do vivido, da realidade em que o aluno está inserido, assim como os saberes que estiveram presentes na formação do professor. E quando começou esta formação? Desde sempre! Mesmo antes de se "tornar" professor, estamos construindo nossos saberes experienciais. Não deixo esquecer de um fato importante em minha vida e que acredito que me aguçou à docência: eu nunca saía de um mercado sem um lápis e um caderno. Minha mãe achava interessante o fato de eu trocar umas balas por um caderno. É tão singelo, mas me faz pensar em toda a minha trajetória. Esses saberes são de extrema importância! Não há de ter um professor com uma bela profissionalidade sem ter essa crença na educação, em seu poder de mudança, de transformação... É o professor, com qualidades e defeitos, dor e alegria ao ensinar, que pode e deve manifestar essa crença em tão grande poder. É preciso conhecer método, currículo, processos de aprendizagem, mas mais do que isso, é preciso conhecer as pessoas, a si e aos seus alunos. Estar em uma constante reflexão sobre o que virá e o que já foi. Mais do que reclamar de uma situação no presente, é buscar inspirações no passado e traçar estratégias diferenciadas para o futuro. É por isso que é de fundamental importância, como muito bem nos traz Sonia Penin, a formação inicial e a continuada, atrelada ao conhecimento da realidade onde se está inserido. Não basta um bom início... É preciso uma bela caminhada, reflexiva e prática, sonhadora e realizadora, crente e dialética; não para se ter um belo fim, já que em nossa jornada pedagógica os saberes a serem construídos não têm limites e nem um final. Vamos nos construindo enquanto professores aos poucos e sempre.
"Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feiraàs 4h da tarde. Ninguém nasce educadorou marcado para ser educador. A gente se faz educador,a gente se forma, como educador, permanentemente,na prática e na reflexão sobre a prática".Paulo Freire
Postagem realizada com base na leitura de: PENIN, Sonia. Profissão docente e contemporaneidade. In: PENIN, Sonia; MARTINEZ, Miguel; ARANTES, Valéria Amorin (org.) Profissão Docente: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2009. p.15-40.