Nosso planejamento para a aula solicitada pela professora Nádie Spence, na disciplina de ensino e identidade docente, começa com os cursos dos quais eu e minhas colegas de grupos fazemos parte: Ciências Sociais e Letras. No grupo, somos eu, Luiza Monteiro e Bruna Passos. As duas são da Letras e eu das Sociais. À princípio, é de fácil colaboração a colocação destes dois cursos numa proposta interdisciplinar, visto que ambas são ciências humanas, utilizam de formas diversas a linguagem e afins. Nossa proposta foi se construindo rapidamente, numa avalanche de ideias que se encaixaram e deram tão certo! Eu gostaria de trabalhar a questão do papel social de gênero, visto que é de extrema importância e significado em uma turma de ensino médio. Este assunto sempre me chamou atenção e acredito que ele tenha um grande potencial para trabalharmos conceitos sociológicos a partir deste assunto que gera polêmicas, mas muita discussão que serve de base para a construção de um rico conhecimento. Ao abordar o papel social de gênero, podemos falar de diferenças culturais x naturais, trabalhando com o que é natural, o que é cultural, como que algo se constrói socialmente, a questão do gênero, dos papéis que se assume socialmente, dos grupos sociais... É um assunto que pode abrir um grande leque para outros conteúdos sociológicos. A partir disso, minhas colegas foram colocando ideias, fomos construindo nossa base: queríamos leitura, escrita, debate e um meio de transformar o senso-comum em saber sociológico, sistemático, mas sem perder as vivências. É por isso que o conto "Convenções", do Luis Fernando Veríssimo, escritor gaúcho de grande sucesso e de grande talento, vem totalmente ao encontro do que prevíamos para a discussão.
"Convenções
Por Fernando Veríssimo em O melhor das comédias da vida privada
A classe média é uma terra estranha.
A Mirtes não se aguentou e contou para a Lurdes:
- Viram teu marido entrando num motel.
A Lurdes abriu a boca e arregalou os olhos. Ficou assim, uma estátua do espanto, durante um minuto, um minuto e meio. Depois pediu detalhes. Quando? Onde? Com quem?
- Ontem. No Discretissimu's.
- Mas como? Era alta? Magra? Loira? Puxava de uma perna?
- O Carlos Alberto me paga. Ah, me paga.
Quando o Carlos Alberto chegou em casa, a Lurdes anunciou que iria deixá-lo. E contou por quê.
- Mas que história é essa, Lurdes? Você sabe quem era mulher que estava comigo no motel. Era você.
- Pois é. Maldita hora em que eu aceitei ir. Discretissimu's! Toda a cidade ficou sabendo. Ainda bem que não me identificaram.
- Pois então que eu tenho que deixar você. Não vê? É o que todas as minhas amigas esperam que eu faça. Não sou mulher de ser enganada pelo marido e não reagir.
- Mas você não foi enganada. Quem estava comigo era você!
- Mas elas não sabem disso!
- Eu não acredito Lurdes. Você vai desmanchar nosso casamento por isso? Por uma convenção?
Mais tarde, quando a Lurdes estava saindo de casa, com as malas, o Carlos Alberto a interceptou. Estava sombrio.
- Acabo de receber um telefonema - disse. - Era o Dico.
- Fez mil rodeios, mas acabou me contando. Disse que, como meu amigo, tinha que contar.
- Você foi vista saindo do Motel Discretissimu's ontem, com um homem.
- Eu sei, mas eu não fui identificado.
- Você não disse que era você?
- O quê? Para que os meus melhores amigos pensem que eu vou a motel com a minha própria mulher?
- Desculpe, Lurdes, mas...
- Vou ter que te dar um tiro."
Bom, é só para dar um gostinho do nosso planejamento. Quando ele estiver prontinho, postarei aqui.
Beijo grande,
Endryelle Santos.